Teatro de tablado - Coordenação: Nelma Mélo


Ensaio do dia 01 de Março de 2013 - Grupo Teatral Kukunká - direção Nelma Mélo
Registro fotográfico: Gisele Carneiro (Responsável pelo registro fotográfico do projeto "Os caipira é um causo sério")
Realizado no Centro Cultural de Mirante do Paranapanema - SP





































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Teatro de tablado - aula do dia 23 de Fevereiro de 2013 - Coordenação: Nelma Mélo











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Aula dos dias 01 e 02 de Fevereiro de 2012 - Coordenação Nelma Mélo
Aulas pertencentes ao curso de Teatro de Rua

Crianças: Montagem da peça "Flicts" (Ziraldo) adaptação: Nelma Mélo





Péça: "Os caipira é um causo sério" (Ronaldo Macedo com adaptação de Nelma Mélo) Grupo de Teatro "Kukunká"





























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Texto de Ronaldo Macedo Adaptação: Nelma Mélo - "Os caipira é um causo sério"

Reg. FBN - Fundação Biblioteca Nacinal - 35764 - Livro 263, página 125

OS CAIPIRA É UM  “CAUSO”  SÉRIO

– OU CAIPIRANDO E CANTANDO – Versão 2


Pesquisa e Texto: RONALDO MACEDO - agosto 1990

Asaptação: Nelma Mélo - 2012

Fontes: PIRES, Cornélio: Conversas ao Pé do Fogo e Musa Caipira

            LOBATO, Monteiro: Urupês e Cidades Mortas

AMARAL, Amadeu: O Dialeto Caipira
CEARENSE, Catulo da Paixão: Meu Sertão e Mata Iluminada
SEREJO, Hélio: Abusões de Mato Grosso e Outras Terras
CASCUDO, Câmara: Ensaios de Etnografia Brasileira
“Causos” Populares de domínio público

CENÁRIO: Casa típica caipira, com fogão de lenha no centro da cena. Banco no proscênio esquerdo, poço, com sarrilho e balde no fundo, lado esquerdo; mesa com bancos no fundo, lado direito; panelas, gamelas, ferramentas agrícolas, cestos, lampiões de querosene, peneiras e afins espalhados pelo palco. Laterais do fogão, fundo do palco e proscênio central e direito livres para o desenvolvimento das cenas.

Palco escuro, luz em resistência vai crescendo, como se o dia fosse passando e clareando. Viola ponteia e inicia melodia de Tristeza do Jeca. A família caipira começa a cantar de longe, do fundo da platéia, como se viesse de volta da roça. A canção vai crescendo com a família vindo pelas laterais da platéia, até chegarem ao palco, descarregarem suas matulas, como se estivessem chegando em casa depois de um dia de trabalho.

FAMÍLIA (canta): Nestes verso tão singelo
                                Minha bela, meu amô,
                                Pra vancê quero contá
                                O meu sofrê, a minha dô.
                                Ieu sô qui nem sabiá
                                Qui quano canta é só tristeza
                                Deis do gaio im que ele tá.

                                Nesta viola ieu canto e gemo de verdade,
                                Cada quadra representa uma sodade.

                                Ieu nasci naquela serra,
                                Num ranchinho bêra-chão,
                                Todo cheio de buraco,
                                Adonde a lua faiz crarão.
                                Quano chega a madrugada,
                                Lá no mato a passarada
                                Principia um baruião.

NHÔ JÃO (descarregando as matulas): Arre égua que cheguemo, sô! Que cansera dos diacho no espinhelo! Óia, trabaiá é bão, é verdade, mai que discadera nóis tomem é verdade!
NHÁ TIORFA (resmungando): Ara, mai pára de recramá, home! Péra aí, povo! Vô ponhá água pra frevê i aperpará um café cum bolinho pra mór di dá sustança proceis! Mané, mi ajuda a acendê o fogo. Maricota, vai pegá água no poço. Barbina, vai penerá a farinha.

JÃO: Mai vô pruveitá prá presentá oceis tudo pros povo. Nóis neim cumprimentemo eles, sô! (vai ao peroscênio) Ba noite, pessoar! (sem resposta) Oceis iscuitaro arguma coisa? Ieu não! Dêxa isgravatá as orêia i tirá os picumã pra mór d’iscuitá mió. Ba noite, povo! (respondem) Eita, gora tá bão! Parece inté um bando de maritaca piano nos gaio da painera! Pessoar, ói só minha famia: (vai levando um a um ao proscênio para aparesentar) minha muié, Nhá Tiorfa, muié trabaiadera, as veiz braba, increnquera, mai boa, c’as indéia no lugá... ara, pára de catucá, sô! Minha fia Maricota, galantinha, istrodia um passarico dessa arturinha mai hojendia uma muié de dezassei zano, já nas hora de casá; minha ôtra fia, Barbina, a mai picuíra, o cuitelinho da famia, chorona que neim ela só! (Barbina se esconde) Ara, vem pra cá, fia, eles qué vê ocê! Esse aqui é meu fio Mané, taludo, valente que neim gato do mato i que canta tal-e-quá um macuco. Mostra a espingarda preles, fio (mostra) Eita! Essa num nega fogo! I ieu, Nhô Jão, um seu criado, sastifação... (desce do palco e cumprimenta o público) Ói, ieu num iscoro serviço i si agrado de cantá i de dançá. Oceis pode chamá nóis tudo de caipira, que nóis num si amufina. Mai vamo entrano i si abancano que vamo contá proceis uns causo i intreverá umas musga supimpa, pra mór de festá.

MARICOTA: Nhor pai, ocê s’isqueceu de falá uma coisa.

JÃO: É mermo? Quar, fia? (Maricota cochicha no ouvido de Jão) Ara, é verdade, Ói, nóis semo caipira! Nóis é os caipira que véve imbrenhado nos mato i vai na cidade a tão somente pra mór de vendê galinha, ovo, porco, verdura i fruita i comprá criozena pros lampião, i nas quermesse, nas festa i na missa.

MANÉ: Nóis num cunhece nada, só mermo a natureza, as pranta i os alimar. Antonce, vamo vortá c’oceis pra trais, no tempo, pra mór de crariá o entendimento. Vamo fazê uma viaje, tá bão?

(luz cai em resistência, Jão acocora-se, Tiorfa vai para o fogão. Os filhos vão fazer as tarefas do início. Entra texto em off, gravado.)

VOZ (off): “Entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e metidas entre o estrangeiro recente e o aborígene de tabuinha no beiço, uma existe, a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé. (pausa)

JÃO: Mai que qué isso Santo Pai? (tira o chapéu)

VOZ (off - prossegue): Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade. ... Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da Lei do Menor Esforço e, nisto, vai longe.
Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz rir aos bichos que moram em toca e gargalhar ao João-de-barro. ... Mobília, nenhuma. ... Nada de armários ou baús. A roupa, guarda-a no corpo. ... Os mantimentos apaiola nos cantos da casa. ... Servem de gaveta os buracos na parede. ...
Na mansão do Jeca a parede dos fundos bojou para fora, ameaçando ruir. ... A fim de neutralizar o desaprumo e prevenir as consequências, ele grudou na parede uma Nossa Senhora enquadrada em moldurinha amarela - santo de mascate.
- Porque não remenda essa parede, homem de Deus? (corte)

JÃO: Ara, num paga a pena, moço! O santinho iscora! (segue o texto)

VOZ (off – prossegue): “Da terra só quer a mandioca, o milho e a cana. A primeira por ser um pão já amassado pela natureza. ... Não pede cuidados, é sem-vergonha; ... a cana dá rapadura e garapa. ...
Doenças hajam que remédios não faltam; para bronquite é um porrete cuspir o doente na boca de um peixe vivo e soltá-lo; o mal se vai com o peixe água abaixo. ... O específico para brotoeja consiste em cozimento de beiço de pote para lavagens. Ainda aqui há um pormenor de monta: é preciso que antes do banho a mãe do doente molhe na água a ponta de sua trança. As brotoejas saram como por encanto. ...
(entra cena da mulher grávida)
Há também a medicação baseada na influição misteriosa de objetos, palavras e atos sobre o corpo humano. ... Num parto difícil, nada mais eficaz como engulir três caroços de feijão mouro, de passo que a parturiente veste pelo avesso a camisa do marido e põe na cabeça, também pelo avesso, o seu chapéu. ...
E o fatalismo? ... Para que lutar, reagir? Deus quis! A maior catástrofe é recebida com esta exclamação. ...
E na arte? Nada!... Ás vezes surge numa família um gênio musical cuja fama esvoaça pelas redondezas. (entra cena do violeiro) Ei-lo na viola: concentra-se, tosse, cuspilha o pigarro, fere as cordas e “tempera”. E fica nisso, no tempero... O caboclo é soturno. Não canta senão rezas lúgubres; não dança senão o cateretê aladainhado. ... No meio da natureza brasílica, tão rica de formas e cores, ... é o sombrio urupê de pau podre a modorrar silencioso no recesso das grotas. Só ele não fala, não canta, não ri, não ama. Só ele, no meio de tanta vida, não vive.    
                                                              
JÃO (levanta-se e vai ao proscênio - foco vermelho): Péra aí, seu moço! Ocê tá variano das indéia? Nóis num semo isso não! Póde oiá! Nóis trabaia, nóis pranta, nóis cóie, nóis véve sim. (filhos e Tiorfa se aproximam.)

BARBINA: É mermo! E aí, nhor moço disinducado! Ocê vai parano de falá i ispaiá essa mintiraiada! Nhor Pai do Céu (homens tiram os chapéus) num querdita n’ocê! (chora e abraça Jão)

TIORFA (esbravejando): Arra! Nóis num teim a tar da istrunção, não, é verdade! Mai ocê que teim inté parece que tá contano causo de pescadô! A gente num carece d’ocê, não, gabola, pra mór de falá mar de nóis!

MANÉ: Ara, moço, nóis num trapaia ninguém, nóis só qué, a tão somente, é fica aqui suzinho, no meio dos mato, das árve e dos passarinho, debaxo dos óio de Deus, (tiram os chapéus) Nosso Nhor!

MARICOTA (fala, pensativa): Ara, nhor pai, mai uma coisa pareceu inté verdade, no monte de tranquera que ele sortô: nóis teim medo!...

JÃO (pega Maricota pelo braço e vai andando para o fundo): Mai fia, o medo nasce co’nóis, corre atrais de nóis a vida tudinha. Mai é um medo deferente. Nóis véve se amoitano de nóis mermo. É cumo si nóis pegasse um treim sem sabê pra que banda vai. Nóis só qué fugi da guerra de fora e das bataia de drento da gente mermo, mai num dianta, o medo corre nos trio, junto co’treim e a par co’nóis.

(som de trem saindo da estação e aumentando a velocidade.)

BARBINA (escutando): Mai escuita, povo! É o treim saino da istação. Será que vem arguem visitá nóis?

MANÉ: Mai quem é que vai vim inté aqui, nesse fundão, da Vila Gularte?

MARICOTA (irônica): Ara, os cumpade, a prima Sonha, os primo violero, tanta gente, sô!

JÃO (olhando ao longe): E num é que é eles memo! Cumé que ocê divinhô, fia?

MARICOTA: Ara, mai é só oiá! Vamo lá recebê os povo, pessoar!

TIORFA: Vamo, fiarada!

(entram as visitas que são recepcionadas pela família com festa.)

TIORFA: Eita, coisa boa! Há que anos nóis num recebia visita aqui! Hoje o dia tá isturdinário, parece inté que o sór tá briano mais, sô!

JÃO (conversa com o compadre Astorfo): Ê, cumpade Astorfo, ocê tá bão? (se abraçam)

ASTORFO: Ieu tô é cumo Deus qué (tiram os chapéus) Vancê é que tá bão, a fiarada ispigada, forte! Ói só a Maricota: tá linda que neim uma santa! Benza Deus! (tiram os chapéus. Maricota gira nos calcanhares, envergonhada e coquete pelo elogio.)

JÃO: Tão certo como sem duv’da! Mai mi conta, oceis tão viajano deis de onte, é? Sairo cedo?

ASTORFO: Apois, cumpade. Nóis tamo é cansado! O diacho do trem atrasô umas sete hora, mai nóis viemo cantando pra passá o tempo e chegá inté aqui e le pidi poisada e um prato de cumida. Nha Tiorfa concorda?

TIORFA: Mai craro, cumpade, o rancho é piqueno mai é a casa d’oceis. Teje à vontade, povo! Vão se abancano que vô passá um café.(todos se acomodam pelo palco, sentando no chão, nos bancos, ocupando todo o centro e proscênio.)

MANÉ: I nóis pode cantá i forgá c’oceis, num é mermo? Oceis canta tão bem que nóis fica inté meio já-já de tão incantado!

MARICOTA: Mai, ante vô ispricá! Sabe, povo, nas indéia da gente, tudo assemeia co’as pranta, as coieita, os passarinho. Tudinho que cuntece nos sentimento é tarquarzinho a natureza, inté a vida ela merma e o amô é iscritinho um cafezá em frô. Qué vê! (família e grupo de cantores da platéia cantam Cafezal em Flor de Carlos Paraná.)

                        Meu cafezal em flor            ]
                        Quanta flor, meu cafezal    ]

                        Ai menina, meu amor,        ]   REFRÃO
                        Minha flor do cafezal.         ]
                        Ai menina, meu amor,        ]
                        Branca flor do cafezal.
                       
Era florada,
                        Lindo véu de branca renda
                        Se estendeu pela fazenda,
                        Qual um manto nupcial.
                        E de mãos dadas
                        Fomos juntos pela estrada,
                        Toda branca e perfumada
                        Pela flor do cafezal.

                        (refrão)

                        Passa-se a noite,
                        Vem o sol ardente e bruto,
                        Morre a flor e nasce o fruto
                        No lugar de cada flor.
                        Passa-se o tempo
                        Em que a vida é toda encanto,
                        Morre o amor e nasce o pranto
                        Fruto amargo de uma dor.

TIORFA: Eita maravia! E iue aqui pelejano pra intendê o que os compositô quiria dizê pra nóis! Ah, Maricota, ocê é memo isperta! Mai só pudia, puxô a mãe, craro! (abraça Maricota)

JÃO (caçoando): Mai só si fô no tamanho, muié! Há, há, há!

BARBINA (chorosa): Mai que belezura e que tristura! Inté chorei de tão bunito a conta intera!

TIORFA (resmungando): Ocê chorô mai foi é pru causa do fumacero, sô! Eita lenha das braba! Sórta fumaça e num acende, tranquera! Cumo é que ieu vô botá a água pra freviá ansim? Cumo ieu vô cuzinhá pros povo? I a chiminé tá intupida de picumã! A fumacêra vorta! Ói só meus zóio! Tá quemano de tanta gastura!

JÃO: Carma, muié! Vô buscá uns graveto, umas paia lá fora e tudo se arresórve! Péra aí! Já vorto, povo! (sai)

TIORFA (fala alto, pois Jão já saiu): Nhô Jão, trais um poco de sapé i fôia seca qué bão! Lá no paió teim uns sabugo, trais pra ispert;á o fogo qué mió!

BARBINA: Nhá mãe. Conta pra nóis tudo aquela história que nhá mãe passô lá no riachão quano merguiô pra pegá pexe!

TIORFA: Mai outra veiz, Barbina, oceis num tá injuado de iscuitá a mesma coisa?

MARICOTA: Ara, conta nhá mãe, a parentaia num cunhece a tar da história. Agaranto que eles vai gostá!

MANÉ: Oceis qué iscuitá o causo?

ASTORFO: Mai cum munto gosto, num é memo pessoar? (concordam) Vamo inté chegá mais perto pra mór d’iscuitá mió! (todos se aproximam em círculo ao fogão)

TIORFA (envaidecida): Tá bão, tá bão! Antonce iue vô contá. Isso cunteceu, tão certo cumo sem dúv’da! Ieu inda era sortera! (filhos divertem-se e gozam) Ói o respeito, cambada! Assucedeu que ieu foi levá umas ropa na bera do riachão pra mór de lavá, mai quano joeiei no batedô pra isfregá ieu vi um montão de pexe. Era tanto que inté freviava a água e pulava pra fora. Antonce fui oiá de perto, mai a pexarada merguiô no fundão e ieu num pude pega c’o barde. Aí arresorvi merguiá i falei: Péra aí, canaiada, vô pegá oceis tudo! I pulei n’água i cumecei a pegá c’as mão e pinchá pra fora d’água. Mai era tanto que ieu pegava dois c’as mão, dois c’os pé e inté ca’boca e pinchava tudo pra fora. Acho que peguei quaje tudo, mai tava tão songa qu’ismaiei lá no fundão e fiquei lá umas duas hora...

MANÉ (corta, assustado): I nhá mãe num morreu fogada?!

JÃO (entrando): Ara, sô! E neim pudia, o riachão tava tão seco que era só areião! Há, há, há, há! Os pexe tava era curtido, povo! Há, há, há, há! (todos riem pra valer)

TIORFA (resmungando): Eita, ocê só sabe iscangaiá co’as coisa séria, sô! Troxe os sabugo? (ele concorda) Antonce muntue aí drento! I vai parano de si ri! 

JÃO (rindo ainda): Coisa séria! Mai nem guspino no anzór panhava tanto pexe, sô! Isso é pisadera, muié, e das braba! Há, há, há, há!

BARBINA (confusa): Pisadera?! Que qué isso, nhor pai?

JÃO: Ocê num cunhece a Pisadera, fia? Mai é uma bruxa véia, munto magricela, cuns dedo cumprido e uma zunhona deste tamanhão! (usa Tiorfa para a descrição da Pisadeira, como que provocando-a) Cabelo desgadeiado, quexada torta e zóio aceso que neim brasa. Quano a gente come dimais na janta e vai drumi, deitado dis costa, ela pula lá de riba, da cumiera do teiado, no peito da gente e acarca, acarca a boca do estamo c’os sapatão dos pé. Aí ocê sonha coisa feia. Ela só pára mermo de pisa quando ocê corda trapaiado, cai da cama e inté pisa no pinico! Há, há, há, há! Ê trupé!

TIORFA (agarra Jão pelo colarinho da camisa): Ara, pra cumbersa de home nunca dei valô! Pisadera mermo foi casá c’ocê, quexo duro, que véve de fucinho trucido pra todas coisa!

JÃO (tentando se libertar): Ói, ocê toma sintido, muié, pra mór de num aprontá pampero na frente das visita, ara! Que muié cheia de chá, sô! (se ajeita)

ASTORFO (disfarçando, tentando levar a conversa para outro lado): Bão, bão... cumpade, ieu é que tô quereno casá. Mai num sei se devo. O que vancê acha?

JÃO (coça a barba e a cabeça): Óia, cumpade, sojeito que pensa num casa e sojeito que casa num pensa! Pra dizê verdade, casamento é a merma coisa que comprá fumo!

ASTORFO (confuso): Cum’é?

JÃO (didático): Ara, quano ocê compra fumo num iscóie que iscóie? Antonce. Daí ocê compra um rolo de fumo que ocê querdita sê dos bão, né verdade? Daí ocê pita a premera vorta i é bão mermo! Mai o resto é macaia, ocê pita pra mór de num perdê! Há, há, há, há! Iscuita um conseio di quem já prantô i coieu: laranjera azeda num dá laranja lima! Há, há, há, há!

TIORFA (furiosa, avançando para Jão, pega um pau de lenha): Ah, home desgramado! Cangaia véia! Ieu sô laranja azeda é?

JÃO (tentando emendar): Ara, muié, é só brincadera, sô! Nóis só tava se advertino!

TIORFA: Si adivertino é?! Mai quem vai se adiverti sô ieu! Ocê vai vê o fumo agorica mermo! Num dianta se moitá neim andá de fasto que atrasa a vida! Vô ti pegá de jeito! Aperpara o lombo! (saem correndo pela platéia)

BARBINA (desesperada, chorando): Carma, nhor pai, nhá mãe! Se aquiete! (chorosa) Ai, Jesuis do Céu, que sarcero! (desorientada) Que nóis vai fazê, povo?

MARICOTA (experiente, despreocupada): Ara, num carece de fazê nada, sô! Isso é fogo de jacá véio! Inté parece que ocê num cunhece nhor pai i nhá mãe. Eles véve dano marrada, bateno língua, mai num corisco de minuto caba tudo e vira num mér dabêia de fazê gosto.

MANÉ (tentando ajudar): Mai nóis pode cantá uma musga pra mór de ajudá a miorá, num é mermo, povo? Aquelas uma que fala das frô, dos passarinho e do amô, que tar?

NHÔ OSVARDO: É agorica memo. Vamo lá, pessoar! (grupo de cantores canta Primeiro Amor, de ......................................)

Saudade palavra triste quando se perde um grande amor,
Na estrada longa da vida eu vou chorando a minha dor.
Igual uma borboleta, vagando triste por sobre a flor,
Meu nome sempre em meus lábios irei chamando por onde for.
Você nem sequer se lembra de ouvir a voz deste sofredor,
Que implora por um carinho, só um pouquinho do seu amor.

Meu primeiro amor,
Tão cedo acabou, só a dor deixou, nesse peito meu.
Meu primeiro amor,
Foi como uma flor que desabrochou e logo morreu.
Nesta solidão,
Sem Ter alegria, o que me alivia são meus tristes ais.
São prantos de dor, que dos olhos caem,
É porque, bem sei, quem eu tanto amei não verei jamais.     

(Jão e Tiorfa vem descendo, no final da última estrofe, e entram no palco abraçados, sentam-se no banco colocado no proscênio. Foco sobre eles. Clima romântico.)

MARICOTA (divertida): Ói só os dois véio! Há, Há, Há! Ieu num falei? (palco no escuro. Luz apenas sobre o casal no procênio.)

JÃO (enlevado): Ah, minha véia, que fremosura! Isso é bunito a conta intera! Cumo ponharo tanta belezura numa musga só! É de cortá o coração da gente! Ah... o amô é mermo uma frô nos gaio do jacatirão! (entrega uma flor que estava escondida a Tiorfa)

TIORFA (mais realista que romântica): Ai, ai! É mai o amô tomem é traiçoero, dá uma brigaiada as veiz, quano dois home gosta da merma muié!

JÃO (divertido): É mermo! Há, há, há! Ocê s’alembra? Ieu e o cumpade Alaor? Cumo nóis pelejemo pra mór de conquistá ocê, muié! Inté teu pai, o finado Nhô Jerimia, entrô pro sarcero. Pinchô o pinico dele pela jinela beim na minha cara! Ê tendéu! Mai deu tudo certinho, ieu ganhei a luita e tô c’ocê agora! (se olham e se abraçam) É, mai quano dois home gosta da mema muié, eles fica cumo que ervado, campiano mutivo pra mór de brigá. É só trisca que sai faisca e o paiero pega fogo! Iscuitei um causo de dois caboco, Bacatuba e Sabiá, lá das banda do norte, que dizia ansim:

(dois personagens entram no palco pelo procênio para fazer a cena do Desafio, de Catulo da Paixão Cearense. Foco sobre o casal apaga; luz sobre os personagens no proscênio.)                                 
BACATUBA: Minha viola morena
                         É uma gaiola di pinho
 Adonde canta i saluça
 Tudo quanto é passarinho!

SABIÁ: Toda viola foi árve,
               Qui o machado derribô!
               Pru via disso ela canta
               O que dos pásso iscuitô!

BACATUBA: Isso é mintira, seu Pedro!
                         Vassuncê é um bobaião!
                         A viola só cumpanha,
                         Quem chora é meu coração!
                       
SABIÄ: Ieu arripito sem medo,
              Que a viola, sim sinhô,
              Já foi árve e gora canta
              O que dos pásso iscuitô!

BACATUBA: Sem os dedo, que nas corda
                         Sabe gemê cum carinho,
                         Qui seria da viola?!
                         Gaiola sem passarinho!

SABIÁ: Seu Bacatuba, um violero,
              Cumo é tu, que ieu num sei não,
              Num martrata uma viola,
              Qui tem arma e coração.

BACATUBA: Si ieu martratasse a viola,
                         Inda tinha duas mão,
                         Pra pidi perdão pras corda,
                         Fazeno minha oração.

SABIÁ: Ieu amo tanto a viola,
               Minha dô, minha aligria,
               Como adoro, rezo i canto
               À Santa Vige Maria!

BACATUBA: A viola qui iue mais adoro,
                         A mai fremosa qui ieu vi,
                         É um diabo qui veste saia,
                         I num tá longe daqui! (focos vermelhos vão entrando em resistência)

SABIÁ (enfurecendo e avançando): Caboco, si tu é home,
                                                             Cospe fora e abre a boca,
                                                             Pra dizê cumo si chama
                                                             O nome dessa caboca.

BACATUBA (também avança, desafiando): Seu cabra ieu num tenho medo
                                                                           Da cobra mai venenosa!
                                                                           Essa caboca si chama
    Jovita Boca de Rosa!...

(avançam um sobre o outro com facas simulando luta. Blackout. Grito em uníssono de todos. Foco sobre Jão no proscênio.)

JÃO: Quano o cabra disse o nome
         Da caboca mai quirida,
         Mai fermosa do sertão,
         Se apagou-se os candiero!...
         Virô tudo num sarcero!...
         Foi tudo dos pé pras mão!
         E antonce foi cacetada!...
         E foi cabeça quebrada!

(Jão começa a cantar Chuá-Chuá, de Sá Pereira. A Segunda estrofe será cantada por uma cantora, que vem ao proscênio e se senta com ele no banco para formar o dueto. Os refrões são cantados por todos.)                     

JÃO: Deixa a cidade, formosa morena
         Linda pequena e volta ao sertão,
         Beber a água da fonte que canta
         Que se alevanta do meio do chão.

         Se tu nasceste cabocla cheirosa
         Cheirando a rosa do seio da terra,
         Volta pra vida serena da roça,
         Daquela palhoça do alto da serra
.
         E a fonte a cantar, chuá, chuá!                    ]
         E as água a correr, chuê, chuê!                  ]
        Parece que alguém, que cheio de mágoa ]     REFRÃO
        Deixasse - quem há de dizer - a saudade ]          
        No meio das águas, rolando também.       ]

        A lua branca de luz prateada,
        Faz a jornada no alto dos céus,
        Como se fosse uma sombra altaneira
        Da cachoeira fazendo escarcéus.

       Quando essa luz, lá da altura distante,
       Loira, ofegante, no poente a cair,
       Dá-me essa trova que o pinho descerra
       Que eu volto pra serra,
       Que eu quero partir.

       (refrão)

(após o refrão, Tiorfa está em pé por trás de Jão e da cantora que estão abraçados, romanticamente, ao final da canção, ela ameaça a dupla.)

TIORFA: A fonte vai é cantá otra coisa que num é chuá! A fonte vai é saí dos teu zóio de tanto chorá pela tunda que ieu vô te dá! Home safado!

JÃO (contrariado, cantora some): Ara, outra veiz muié, ocê hoje tá é cum cabelo nas venta, sô! Mai ieu só tava cantano! Que diacho!

BARBINA (corta, chorosa): Ah, nhá mãe, ai que lindura qué a musga caipira. Cumo que dói o coração de sodade. É, deve de sê pió ainda quano o amô da gente vai s’imbora pra num vortá. Ai, Ai...

TIORFA (estranhando): Ché, inté ocê, Barbina? Cuido que isso inté virô musga, fia. (abraça Barbina) Ocê cunhece aquela que fala do amô que vai s’imbora de barco, pu’lo rio. É tão triste! Cumo se chama o tar do barco, Nhô Jão?

JÃO: A Chalana, muié! É o barco que corre pu’lo rio Paraguai...               
                            
(grupo vocal canta Chalana, de Mário Zan  e Arlindo Pinto)
                       
Lá vai uma chalana,
                        Bem longe se vai,
                        Descendo num remanso
                        Do Rio Paraguai.

                        Ó chalana, sem querer,        ]
                        Tu aumentas minha dor,      ]    REFRÃO
                        Nessas águas tão serenas  ]
                        Vai levando o meu amor.   ]

                        E assim ele se foi,
                        Nem de mim se despediu,
                        A chalana vai sumindo
                        Lá na curva do rio.
                        E se ele vai magoado,
                        Eu bem sei que tem razão,
                        Fui ingrata eu feri
                        O seu meigo coração.

(blackout. Foco sobre Maricota, no centro do palco, próxima ao fogão.)

MARICOTA (suspirando, sonhadora): Ai, ai, que apertura no coração! Ai, inté perdi o forgo! Mai cumo dói quano si véve longe do amô da gente! Semeia picada de cassununga! Que sodade curtida! (canta, acompanhada de violão)
            Fui no mato cortá lenha,
            Santo Antonho mi chamô.
            Si santo qué santo chama,
            Que dizê de um pecadô! (pega a vassoura e varre)
É, perciso casá mermo, nhor pai tá certo! Já tô quaje virano véia passada! Tomem Santo Antonho num mi ajuda! (vira-se para o santo) Tá iscuitano, Santo Antonho? É, ieu tô falano c’ocê mermo! Óia, já te cendi 13 vela, já fiz a trezena, já fiz promessa, já tirei a sorte c’a casca da laranja! Já inté rezei a oração do marido, no dia 13 de junho. Ara, o que ocê qué mai, sô? Ah, mai vô te botá de castigo drento do poço, de ponta cabeça pra baxo, ocê se aprepare! (coloca o santo no poço) Pronto! Agora vô te dexa aí inté minhã. Vamo vê si arresórve! Iscuita bem, ieu quero casá c’o Tonico, tá intendeno, outro num serve, num dianta! Ah. Istrodia ele quaje me bejô, mai nhá mãe pareceu ditrais do paió i pegô nóis no sufragante. Ah, mai si ele me bejasse, que maravia! O bejo dele deve de sê tão doce... ai... ai... (cantoras cantam Beijinho Doce, de Nhô Pai)
                        Que beijinho doce,                         ]
                        Que ele tem,                                    ]     B  I  S
                        Depois que beijei ele                     ]          
                        Nunca mais amei ninguém.          ]

                        Que beijinho doce,
                        Foi ele quem trouxe
                        De longe pra mim,
                        Se me abraça apertado,
                        Suspira dobrado,
                        Que amor sem fim.

                        Coração quem manda
                        Quando a gente ama,
                        Se estou junto dele
                        Sem dar um beijinho
                        Coração reclama.

                        Que beijinho doce,
                        Foi ele quem trouxe
                        De longe pra mim,
                        Se me abraça apertado,
                        Suspira dobrado,
                        Que amor sem fim.
  
JÃO (entrando com Astorfo): Mai se ocê se casá, Nhô Astorfo, ocê já’iscoieu o lugá adonde vai passá a lua de mér. Oceis num vai viajá?

ASTORFO: Mai craro, cumpade! Ieu tô maginano de passá uns dia cuns parente lá no Mato Grosso, quaje na frontera c’o Paraguai. Faiz tempão qui ieu num vô lá.

JÃO: É, Mato Grosso é servaje, mai é um lugá intupetado de história, de tradição, num é mermo? Teve inté guerra lá, sô! E teim umas musga bunita pra increnca por lá. As guaranha, que alembra os índio. Iscuita só:  (cantores cantam Trem do Pantanal, de............................)

                        Enquanto esse velho trem
                        Atravessa o Pantanal,
                        As estrelas do Cruzeiro
                        Fazem um sinal.
                        De que esse é o melhor caminho,
                        Pra quem é, como eu,
                        Mais um fugitivo da guerra.

                        Enquanto  esse velho trem                       ]
                        Atravessa o Pantanal,                                ]
                        O povo lá em casa                                     ]     S  O  L  O
                        Espera que eu mande um postal,                       ]
                        Dizendo que eu estou muito bem                       ]
                        E vivo, rumo a Santa Cruz de la Sierra.  ]

                        Enquanto esse velho trem            ]
                        Atravessa o Pantanal,                    ]
                        Só meu coração                              ]
                        Está batendo desigual, desigual, ]
                        Ele agora sabe que o medo          }           T  R  I  O
                        Viaja também                                  ]
                        Sobre todos os trilhos da terra.     ]          
                        Mais um fugitivo da guerra,           ]
                        Rumo a Santa Cruz de la Sierra. ]

JÃO (emocionado): Ah, meu Brasir tão grandão e nóis num cunhece ele!

TIORFA: É, mai sabe, pessoar, lugá isquisito é a tar da capitar. Tem tanta coisera, umas nuvidade sem quantia, que mal-e-má dá pra vê tudo, num é mermo, fiarada?

MARICOTA: Tal-e-quá! Oceis sabe que lá nóis num percisa isperá o mascate vim vendê as coisa pra nóis? Lá nóis vai nas casa donde eles trabaia, uns lugá cheio de coisarada isparramada numas partilera de vrido, que de noite eles alumia pra gente vê mió!

NHÁ RITA (espantada): Num querdito! Qui belezura, sô!
               
BARBINA: Oceis sabe, lá é uma disorde, parece inté frumiguero de gente nas rua. E as casa? Uma atrepano nas otra. Teim uns tar de arranha-céu que é um montão de casa, uma im riba da otra, e pr’oceis chegá no arto teim de entrá numa gaiola que sobe drento de um poço, o tar do elevadô. Ai qui paura, sô! Parece inté que vai disabá do arto co’nóis tudo! Crendospadre!

MANÉ: As luiz de lá num é lampião de criozena! Teim umas bola pindurada nos teto que acende e os povo chama de lampida lé-lé... cumo é mermo, nhor pai?

JÃO: Elértica, Mané! O cumbustive das luiz evem nuns arame que entra nas casa pu’las parede, no arto, traquarzinho a água!

MANÉ: A água da capitar, povo, num é de poço neim de mina. E vem nuns canudo de ferro que entra tomem pu’las parede das casa e sai num troço que eles chama de tornera! 

JÃO: A muié quano chegô, num si deu bem co’a água dos canudo de ferro. Passô mar, ficô inté impaxada. O buticaro que nóis percuremo falô que ela tava era cum prisão de vento. Aí ela tomô um reméde d’um vrido azur, uma tar de... de ma... de marianésia de file e sarô de veiz. Eita reméde bão, sô! O buticaro falô que é relaxante.  

ASTORFO: Ara, que diacho é isso, cumade?

TIORFA: Mai é um reméde que sorta tudo que tá preso, sô! Mai o mio que ieu viu por lá, pessoar, foi um apareio isquisito que fala i toca musga deferente, Os povo bota uma bolacha briosa num lugá fecha o treco e antonce sai uma canturia im outro lugá. Coisa do otro mundo, sô!

MARICOTA: Eles chama a bolacha preta de biosa de Sivê. Eles diz que é bão pras festa pruquê toca as muga tudo incarrerada, sem pará pra discansá. Ieu nunca vi coisa ansin, povo!

JÃO: E ocêis sabia que inté a musga caipira cantô no tar apareio? Apois é verdade! Nóis iscuitemo co’essas oreia aqui, dois caipira cantano, i sabe o quê? Ói só... (grupo vocal canta Chitãozinho e Xororá de ......................)

                        Ieu num troco meu ranchinho
                        Marradinho di cipó,
                        Pruma casa na cidade
                        Neim que seja bangaló.
                        Ieu moro lá no deserto,
                        Seim vizinho, vivo só,
                        Só me alegra quano pia
                        Lá praqueles cafundó
                        É o nhambu-chintã i o xororó.       }    B  I  S

                        Quano rompe a madrugada
                        Canta o galo carijó
                        Pia triste a curuja
                        Na cumiera do paió.
                        Quano chega o entardecê
                        Pia triste o jaó,
Só me alegra quano pia
                        Lá praqueles cafundó
                        É o nhambu-chintã i o xororó.       }    B  I  S

                        Num mi dô co’a terra roxa,
                        Que co’a seca larga pó,
                        Na baxada do areião
                        Ieu sinto prazê maió
                        Quano a rolinha no andá
                        No areião faiz caracó
Só me alegra quano pia
                        Lá praqueles cafundó
                        É o nhambu-chintã i o xororó.       }    B  I  S

                        Ieu faço minhas caçada
                        Nhante de saí o sór,
                        Ispingarda, cartuchera,
                        Patrona de tiracó,
                        Tenho buzina e cachorro
                        Pra fazê forrobodó,
Só me alegra quano pia
                        Lá praqueles cafundó
                        É o nhambu-chintã i o xororó.       }    B  I  S

                        Quano sei di uma nuticia
                        Que outro canta mió,
                        Meu coração dá um balanço,
                        Fica meio banzaró,
                        Suspiro sai do meu peito
                        Que neim bala juveló,
Só me alegra quano pia
                        Lá praqueles cafundó
                        É o nhambu-chintã i o xororó.       }    B  I  S


NHÁ DORICA: Conta mai, povo, que mai teim por lá?

BARBINA: Aí nóis incontremo lá o tio Desidéro que levô nóis numa vendinha que eles chama de café-bilhar. Lá nóis isprementô uma escuma de leite, cum chero de frô, nuns copo de bolacha. O tar do sorvete! Mai é bão! Nóis fica co’a boca geladinha, dá uma friúra no estamo!

MANÉ: E o cinema, povo, oceis neim magina! É um lugá grandão que neim o paió de mio, mai cheio de cadera, uma grudada na outra, pra mór do povo sentá e oiá prum lençór branco na frente. Nóis cheguemo, sentemo, aí as luiz si apagô e pareceu no lençór umas pessoa contano uns causo, umas história, mai falano istrangero e nóis num intendeu nadica di nada. Mai inté gora ieu num sei cumo eles entrô drento do lençór. Aquilo era o tar do firme.

MARICOTA: Tinha uma muié tão bunita, era uma artista que cantava e dançava e os home tudo subiava e chamava ela de Girda. Mai cumo chama o nome de verdade dela,. nhor pai?

JÃO: Me falaro que é a tar de Rita Vaivórta, Marica!

MARICOTA: Essa merma! Ah, ieu quero ficá inguarzinha a ela!

BARBINA: Ih, mai isso vai levá é munto tempo, sô! Ela é tão bunita e ocê é feiosa cumo rastoio, sem dente, chatola e cum zóio di pexe cuzido!

MARICOTA (furiosa): Ah, mai vô t’isquentá as oreia cuns pé d’ovido, sapiroquenta!

TIORFA: Óia o reio! Oceis qué levá uma tunda na frente das visita é? Que farta de poca vergonha!

MARICOTA: Discurpa, nhá mãe! Mai ela fica avacaiano cum ieu, ara! Bão, mai no cinema tem dois firme i quano caba um, eles cende as luiz i a gente vai cumê pipoca e doce e dispois vórta pra mór de vê o outro firme.

BARBINA: Aí, povo, cunteceu uma coisa isquisita! Ieu tava sentada suzinha e mal-e-má pagô as luiz ieu sinti arguém co’as mão no meu joeio e dispois um biliscão na oreia. Acho que era sombração. Aí dei um baita grito e saí às carrera co’a famia atrais d’ieu. Inté caí no escuro! Vôte cobra! Que tendéu! Num quero vortá mais vortá lá não!

JÃO: É verdade. A meio do sarcero da capitar, que sodade dos cantadô e dos violero, do cantá dos passarinho. Ah, mai nóis pode istica os cambito filiz. Nóis viu o pogresso dos home que se ri de nóis, dos caipira, dos matuto, dos jeca cumo eles chama nóis tudo.

MANÉ: Dispois de uns dia naquelas banda, oceis cumeça mermo é campiá o caminho de vorta, pruquê é tudo deferente, inté bunito, mai nóis parece pexe fora d’água, sô!

MARICOTA: As terra da gente chama nóis de longe e, falá verdade, nóis qué memo é vortá pra nossa paióça, presse mundão aberto seim portera!

BARBINA (sonhadora): Nóis iscuita inté o berrante chamano os boi. Eita sodade na arma!

JÃO: Mai oceis iscuita o que ieu tô dizeno: o pogresso vai chegá inté aqui e tudinho vai se mudá e aí, antonce, só vai ficá mermo é a lembrança dos tempo d’antonte. Nóis vai ficá inguarzinha a eles, sô!

ASTORFO (preparando-se para sair): Bão, povo, mai já tá iscureceno, as galinha já impulerô nos gaio das árve, a lua já tá briano, a curuja já piô, o tempo tá fresco e nóis vamo andano. Tá na hora de terminá a viaje, povo! (todos levantam-se e se preparam para sair.)

JÃO (avança para o proscênio): Mai nhante, nóis qué agardecê tudos aquele que falaro e fizéro nóis cunhecido:
            Um grande pesquisadô,
            Dos maió que si achô,                
            Iscrivinhô um monte de livro,
            Gravô munta musga caipira,
            Cunservada pros porvire.
            A bença Nhô Cornélio Pire! (tira o chapéu e todos aplaudem.)

TIORFA (avança para o proscênio): Memo falano mar de nóis,
                                                             Ocê feiz nóis acordá e mudá seu tanto,
                                                             Seu moço marcriado, ispaiadô de buato.
                                                             A bença Nhô Montero Lobato!  (todos aplaudem.)

MARICOTA (avança para o proscênio): Ocê istudô e divurgô inté num sei donde,
                                                                   Nesse mundão qué o Brasir,
                                                                   Nosso jeito isturdio de falá.
                                                                   A bença Nhô Amadeu Amará!
 (todos aplaudem.)

BARBINA (avança para o proscênio): Eita puesia supimpa
                                                                Que ocê fazia pra nóis,
                                                                Tudo mundo iscuitava co’coração,
                                                                Que belezura é o Luá do Sertão!
                                                                 A bença Nhô Catulo da Paxão!
(todos aplaudem.)

MANÉ (avança para o proscênio): E os causo, pessoar, num conta?
                                                        As mintiraiada que o povo inventá?
                                                        Se num havera eles o caipira era mudo.
                                                        Mai ocê guardô nos livro.
                                                        A bença Nhô Câmara Cascudo! 

JÃO:  E ocê o mais caipira dos caipira
Qui nus retratô de forma supimpa
E nos deu orgulho de ser nós mermo
E mostrou ao mundo nosso encanto
A bença Nhô Antônio Cândido!  (todos aplaudem.)

                                    
MANÉ: E proceis tudo que viero aqui festá co’nóis, um abraço bem apertado do fundo do coração! Ói só que viaje supimpa nóis fizemo juntinho, vortano pra trais e pra drento de nóis. Oceis toma sintido: os caipira semo todo nóis! (Todos aplaudem, a família desce do palco e abraça o público e os dois violeiro iniciam a música Vivde vida marvada de Rolando Boldrin.)


Corre um boato aqui donde eu móro
Que as mágoas que eu choro são mal ponteadas
Que no capim mascado do meu boi
A baba sempre foi santa e purificada
Diz que eu rumino desde menininho
Fraco e mirradinho a ração da estrada
Vou mastigando o mundo e ruminando
E assim vou tocando essa vida marvada
É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remédio pros meus desengano
É que a viola fala alto no meu peito, mano
E toda a mágoa é um mistério fora desse plano
Prá todo aqueles que só fala que eu não sei vivê
Chega lá em casa pruma visitinha
Que no verso e no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me num cateretê
Há de encontrar-me num cateretê
Tem um ditado dito como certo
Que o cavalo esperto não espanta a boiada
E quem refuga o mundo resmungando
Passará berrando essa vida marvada
Cumpadi meu que inveieceu cantando
Diz que ruminando dá pra ser feliz
Por isso eu vagueio ponteando
E assim procurando minha flor-de-liz

F    I    M


agosto de 1990 / readaptação novembro de 2012                    

 
                        

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Projeto "Revelando Mirante" recebe o Projeto Ademar Guerra em 01 de Setembro de 2012.
Primeiro dia de participação do orientador enviado pelo Projeto Ademar Guerra - Marco Antônio. As aulas de teatro são divididas da seguinte forma: Pela manhã aula de teatro de rua e pela tarde Teatro de Tablado ambas orientadas por Nelma Mélo do Clube do Meio Artístico.
O Projeto Revelando Mirante é uma parceria entre a SECULT de Mirante do Paranapanema, Energia Social para Sustentabilidade Local - ETH e Clube do Meio Artístico com início em Julho de 2012 e término em Abril de 2013.
Nossos agradecimentos ao Projeto Ademar Guerra






















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Teatro de Tablado - Coordenação: Nelma Mélo - Aula do dia 25 de Agosto de 2012.
Grupo teatral formado com os alunos: "Kukunká" Texto cedido por Ronaldo Macedo - "Os caipira é um causo sério" - Grupo solicitante do Projeto Ademar Guerra.
Nesse dia - Pesquisa - Workshop de música e viola caipira pelo violeiro Jotacê Cardoso com direito a acompanhamento das canções que fazem parte no texto. Fotos: Nelma Mélo & Jotacê Cardoso.



























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Aula do dia 04 de Agosto de 2012 - Coordenação: Nelma Mélo



















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2ª aula - Coordenação: Nelma Mélo - 30 de Junho de 2012













Teatro de tablado - Coordenação: Nelma Mélo


INICIAÇÃO AO TEATRO


OBJETIVOS
RESULTADOS ESPERADOS
Sensibilização dos jovens para o teatro
Criar uma cia. de teatro que represente o município na região.
Desenvolvimento da criatividade e da auto confiança através do teatro;
Desenvolvimento da socialização / cooperação;
Autoconhecimento;
Desenvolvimento da confiança em si mesmo e nos outros;
Desenvolvimento pessoal e relacional:
Respeito pela diferença.

PÚBLICO ALVO:
√ Público em geral, em especial adultos e melhor idade;

DIVULGAÇÃO:
√ Cartazes e folders em locais estratégicos no comercio local (Padarias, supermercados, etc.), grupo de melhor idade, radio e carros de som;

CRONOGRAMA:
CONTEÚDO
AÇÕES
H/A
Breve Explanação sobre a história do teatro

04
Jogos Teatrais (Técnicas vocais e Corporais)

20
Postura e andamento

04
O gesto na comunicação “não verbal”

04
Criação de “personagens tipo” (tipos físicos)

08
A expressão corporal na criação de uma personagem

08
A palavra e o gesto

08
O “Teatro Essencial”

04
Ensaios

20
TOTAL

80

METODOLOGIA:
Curso com 80 Horas/aula aplicando técnicas de Trabalho e Prática Supervisionada, para a formação de uma cia. teatral no município.

CRITÉRIO DE SELEÇÃO:
         Serão selecionados através de carta de interesses.

CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO:
Análise do desenvolvimento durante o trabalho

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Nelma Maria de Santana Melo




● Bacharel em Turismo - Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) 1986
● Desde 2004 ministra oficinas na Oficina Cultural Thimochenco Wehbi
● Iº e IIº Fórum Cultural da UNESP
● Iº Fórum de Pedagogia da UNESP

● Conferência Intermunicipal de Cultura de Regente Feijó e Região (17 Cidades)
● Circo Teatro Rosa dos Ventos de Presidente Prudente (2006)

● Produção do XVIIº FENTEPP
17 a 22 /09/2009 – Fartura 2009 –  Organização e produção ao  lado  de  Jotacê Cardoso e com o show Sertão Brasil – Presidente Prudente
● 31/10/2009 – Caravana da  Cultura  do  Clube  do  Meio  Artístico  na  cidade  de Martinópolis – SP, com oficinas e Show.
● 24/10/2009 – Caravana  da  Cultura  do  Clube  do  Meio  Artístico  na  cidade  de Regente Feijó – SP, com oficinas e Show.
● 26/09/2009 – Caravana  da  Cultura  do  Clube  do  Meio  Artístico  na  cidade  de Narandiba – SP, com oficinas e Show.
● 29/08/2009 – Caravana  da  Cultura  do  Clube  do  Meio  Artístico  na  cidade  de Anhumas – SP, com oficinas e Show.
● 22/08/2009 – Caravana da Cultura do Clube do Meio Artístico na cidade de Caiabu – SP, com oficinas e Show.
● 05/06/2009 – Estréia da peça de teatro “O Maestro e a Cantora” na Vª Mostra de Teatro 2009 no Lugar das Artes na cidade de Pres.  Prudente – SP. Como  atriz e cantora.
● Show Sertão Brasil – Presidente Prudente – SP - SESC THERMAS (Março de 2009)
- Show Sertão Brasil – Pres. Prudente – SP - 100 anos de Casas Pernambucanas (Novembro de 2008)
● Show Sertão Brasil – Festa Anual da Arte de Artistas de Presidente Prudente e Região – Presidente Prudente - SP - Clube do Meio Artístico. (Novembro de 2008)
● Show Sertão Brasil – Santo Expedito – SP - AMOPONTAL (maio de 2008)
● Virada Cultural Paulista – Presidente Prudente – SP (19 de maio de 2007)
● Show para a Associação de Portadores de HIV/AIDS em Presidente Prudente – SP ( 11 de maio de 2007)
● Clube do Meio – 30 anos por Jotacê Cardoso – Teatro Municipal Procópio Ferreira – Presidente Prudente – SP (Setembro de 2006)
● Organizadora do show anual do Clube do Meio Artístico – Festa anual da artes  e artistas da região de Presidente Prudente –SP.

● Pesquisa cultural do Oeste Paulista (2006 a 2010)
● Inventário cultural da cidade de Olinda (1985 a 1986)

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